Talvez você já tenha ouvido falar em revolução da longevidade. O geriontologista Alexandre Kalache, um dos mais renomados pesquisadores em envelhecimento, há décadas vem chamando a atenção para este tema em âmbito mundial.
Mas por que revolução?
Revolução, genericamente, significa uma transformação radical que atinge fortemente os diversos aspectos da vida em sociedade.
Revolução da longevidade quer dizer que as pessoas estão vivendo mais e isso causará um grande impacto na vida coletiva.
Só para se ter ideia da mudança, em 1945, a média de vida era de 43 anos. Em 2012, 75 anos e já em 2018, 77 anos. Isso é uma revolução nunca antes vista. Certamente a erradicação de algumas doenças, avanços em tratamentos médicos, e melhor saneamento básico têm sua contribuição nessa longevidade.
A face do novo mundo
Em 1991, pessoas com mais de 60 anos representavam apenas 7,3% da população brasileira. Em 2018, esse número quase dobrou, pois, segundo o IBGE, 13% da população brasileira já estava acima dos 60 anos.
O Brasil, até 2025, será o sexto país do mundo com o maior número de pessoas idosas de acordo com dados da OMS.
Agora considere que existe um constante crescimento do número de idosos/as e, em contrapartida, uma diminuição em número de crianças nascendo, principalmente nas camadas sociais mais favorecidas. Acrescente-se a isso o significante número de jovens que são assassinados/as nos diversos estados brasileiros de acordo com dados do IPEA. A lógica, então, aponta para um crescente número de pessoas mais velhas em relação à população jovem.
Na tabela abaixo, fica evidente essa desproporção entre jovens e adultos no decorrer de diferentes décadas e o relevante envelhecimento progressivo da população brasileira.
O gráfico mostra, por exemplo, que em 2060 haverá mais pessoas de 55-59 anos do que pessoas com menos idade. E haverá muito mais pessoas de 75 a 90 anos vivas do que existe no momento. Ou seja, em somente 30 anos o Brasil vai ter uma cara bem diferente da atual.
Barreiras sociais e físicas a vencer
Quem ainda não chegou aos 60 anos deve entender que o mundo tem de se adequar a essa nova velha realidade. Arquitetos/as, designers, nutricionistas, médicos/as, engenheiros/as, enfim todos/as os/as profissionais precisam ter uma compreensão do que envelhecimento significa e as necessidades que ele cria. As pessoas que já chegaram lá têm muito a ensinar a todos/as sobre isso.
Uma universidade, uma cidade, um estado, um país amigo dos 60+ é, consequentemente, amigo de todos/as. Portanto, preparar os espaços públicos e privados para os/as idosos/as é um ganho para a população em geral.
Para que se tenha um futuro de pessoas contribuindo com sabedoria e tendo mais qualidade de vida, é necessário que sejamos mais acolhedores/as e mais cuidadosos/as em relação ao/à idoso/a hoje. É assim que se ensina os/as mais jovens como devem tratar as gerações anteriores as deles/as: com direito, voz, participação, respeito e cuidado. Mas também é urgente exigir do poder público ações que condizam com as previsões demográficas em curso.
A realidade do envelhecimento das populações não é novidade em lugar algum, tampouco o impacto que ela causará no mundo. Mas existe uma lentidão no sentido de ter ações programadas e contínuas que considerem essa mudança, principalmente no Brasil. Essa é a mesma lentidão que colocou o mundo numa situação emergencial com o Covid-19 que, em termos de pandemia e suas consequências, já estava previsto.
O envelhecimento populacional não é uma doença, mas porque vai trazer mudanças nas relações de trabalho e de aposentadoria e por demandar adaptações nas cidades, por exemplo, essa previsão tem de ser levada a sério. Hoje.
O Covid-19 trouxe à tona a precariedade, o atraso, a violência e a miséria em que grande parte da população brasileira vive. Imagine isso mais na frente só que com uma população envelhecida e doente.
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REFERÊNCIAS
Livros
Boniwell, I. & Tunaril A. Positive Psychology - Theory, research and applicartions. Second Edition. NY: Open International Publishing. 2019.
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